quarta-feira, 30 de março de 2016

Existem histórias difíceis de escrever e esta é uma delas. Marina Menegazzo e María José Coni tinham 21 e 22 anos. Ambas eram de Mendoza, Argentina. Eram pessoas com um grande coração e forte amor pelo próximo. Na verdade, eram voluntárias da fundaçãoPuente Vincular, uma organização dedicada a ajudar pessoas que estão nas ruas, em sua cidade natal.
Em 10 de janeiro de 2016, Marina e María José se preparavam para fazer a viagem de suas vidas junto com duas amigas. Um mês e meio viajando pelo Equador e Perú. As duas meninas começaram a viagem muito animadas e iam compartilhando todos os dias fotos das paisagens e novas experiências em seus perfis no Facebook. Mas, de repente, deixaram de dar notícias. As famílias, preocupadas, foram até o Equador procurá-las no último lugar de onde as meninas escreveram para dizer que estavam voltando para a Argentina.
 Em 22 de fevereiro alguém havia feito o impensável com as duas meninas que tinham toda uma vida pela frente. Alguém acabou com suas vidas nesta noite, aparentemente em uma festa. Na praia, seus corpos apareceram dentro de sacos de lixo como se fossem restos.
As circunstâncias de suas mortes ainda são desconhecidas. Milhões de pessoas agora buscam justiça para Marina e María José. Mas a carta que está dando a volta ao mundo foi escrita por Guadalupe Acosta, uma estudante que se coloca na pele das duas garotas de uma maneira muito especial e escreve estas comoventes palavras no Facebook:
“Ontem me mataram.
Não permiti que me tocassem e arrebentaram meu crânio com um pedaço de pau. Me deram uma facada e me deixaram sangrando até a morte.
Igual a um resto, me enfiaram em um saco de lixo preto enrolado com fita e me largaram em uma praia, onde horas mais tarde me encontraram.
Mas, pior do que a morte, foi a humilhação que veio depois. Desde o momento que encontraram o meu corpo inerte, ninguém se perguntou onde estava o filho da puta que acabou com meus sonhos, minhas esperanças, minha vida. Não, na verdade começaram a me fazer perguntas inúteis. A mim. Podem imaginar? Uma morta que não pode falar, não pode se defender.
Que roupa você estava usando?
Por que você estava andando sozinha?
Por que uma mulher vai viajar desacompanhada?
Você se meteu em um bairro perigoso, o que você esperava?
Questionaram meus pais por terem me dado asas, por deixarem que eu fosse independente como qualquer ser humano. Disseram a eles que com certeza estávamos drogadas e que procuramos, que fizemos algo, que eles deveriam ter nos vigiado.
E só morta entendi que não, que para o mundo eu não sou igual a um homem. Que morrer foi minha culpa, que sempre vai ser. Enquanto que se quem tivesse morrido fossem dois jovens viajantes, as pessoas estariam dando os pêsames, e com o seu discurso falso e hipócrita de dupla moral, pediriram uma pena maior para os assassinos.
Mas ao ser mulher, isso se minimiza. Se torna menos grave, porque, claro, eu procurei isso. Fazendo o que eu queria encontrei o que mereceia por não ser submissa, por não querer ficar em casa, por investir meu próprio dinheiro em meus sonhos. Por isso e muito mais, me condenaram. 
E eu fiquei com pena, porque já não estou mais aqui. Mas você está. E é mulher. E tem que aguentar que continuem te dando o mesmo sermão de “se fazer respeitar”, de que é sua culpa que gritem contigo, que queiram te tocar/lamber/chupar suas genitais na rua por andar com um short quando faz um calor de 40 graus, de que se você viaja sozinha é uma “louca” e que muito certamente, se te aconteceu algo, se pisaram nos teus direitos, você procurou.
Te peço por mim e por todas as mulheres que foram caladas, silenciadas, que tiveram a vida e os sonhos cagados, levantem a voz. Vamos lutar, eu ao teu lado, em espírito, e te prometo que um dia vamos ser tantas, que não existirão sacos de lixo suficientes para calar a todas nós.”
Se você esteve, ou conhece alguém que esteve na festa “Full Moon Party” em Montañita, no Equador, em 22 de fevereiro de 2016, as irmãs de Marina pedem fotos daquela noite, em uma campanha iniciada no Twitter e no Facebook.
Estas meninas apenas queriam se divertir nas férias e alguém decidiu tirar-lhes a vida. Que tristeza ter que perder pessoas maravilhosas como elas. De nossa parte, Marina e María José: obrigado por seu trabalho maravilhoso. Aonde quer que estejam.

Facebook Fundación Puente Vincular

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